Fazes-me muita falta, Mãe!
Partiste e disseste que falavas comigo "amanhã " . Já não ouvi mais a tua voz suave, envelhecida, sempre pronta a ouvir os meus desabafos, com um sorriso e a dizer " não te zangues, filha, não vale a pena."
Nunca te zangavas com ninguém, por muito que te ferissem. Tinhas sempre uma palavra de conforto para quem batesse à nossa porta. Os teus olhos brilhavam quando tinhas toda a família perto de ti e sobretudo à volta da mesa de jantar.
A nossa casa era o ponto de encontro de todos os tios e tias e primos e primas... Havia sempre lugar para mais um. Jamais viraste as costas a alguém e todos te procuravam, sabendo que estavas ali, pronta a ajudar quem quer que fosse.
Quantas vezes te disse que não era justo o modo como te procuravam, mas tu dizias sempre " deixa lá, filha..." e continuavas agindo como se nada te magoasse... mas os teus olhos ficavam, muitas vezes, marejados de lágrimas, que escondias de mim para que eu não reagisse de um modo menos amigável... E como tu ficavas zangada comigo quando as minhas palavras eram mais amargas para quem te magoava... Nesses momentos, era o Pai que vinha em meu auxílio e dizia : "A miúda tem razão... fazem de ti o que querem..." , lembras-te , Mãe?
Recordo-me de quando era menina,filha única ainda, e dos vestidos que tu teimavas em que eu usasse e que eu não queria por demasiado infantis...
Recordo bem como fiquei zangada com a prima porque me estragou a boneca no meio da brincadeira e tu nos apaziguaste como de costume, prometendo-me uma nova , o que eu não aceitava porque " não era a mesma"...
Recordo-me de como me obrigavas a ir à missa do " meio dia" ao domingo, enquanto o Pai nos esperava cá fora e eu insistia sempre em querer ficar com o pai. Essa fé que te acompanhou sempre é que nunca quis nada comigo, Mãe, o que sempre te entristeceu mas aceitaste, como sempre aceitaste os outros...
Fazes-me muita falta, Mãe! Quantas vezes vou ter contigo,lá onde te deixaram ,há 6 anos atrás, e falo contigo! Deixo-te as flores brancas e rosas de que tu tanto gostavas! É verdade que as lágrimas caem dos meus olhos, que a dor da saudade é imensa ao mesmo tempo que alguma Paz me invade.
" Não chores, filha, deixa lá. É assim a Vida! " Até parece que oiço a tua voz suave dizendo estas palavras que tantas vezes me disseste.
Fazes-me falta,Mãe! E hás -de fazer até ao dia em que também hei-de partir.
