quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Ficar afónica..? Experimentei...

A vida reserva-nos muitas surpresas, mesmo com alguns acontecimentos habituais no dia a dia...
Sempre soube o que é ficar rouca, mais ou menos, mas nada que uns rebuçados Santo Onofre e um chá de gengibre com mel não resolvessem. Desta vez, depois de um almoço bem disposto com uns bons amigos, decidi descansar um pouco, já que , mais tarde, novo lanche ajantarado em casa de outros amigos, ferrenhos do Benfica, o Glorioso, nos aguardava para vermos , na TV, o Derby, na Luz.
Tudo calmo, bem combinado, uma temperatura agradável, embora acompanhados por um vento levezinho, que não deixava de ser  bem acolhido.
Descanso completado, mais algumas páginas de um livro de Osho lidas, horas de tomar um café. Levanto- me e surpresa ... não conseguia falar. Completamente afónica... Causas?
Ignoro, mas são muitas as possibilidades, passando pelo verão e outono alternando-se no mesmo período de tempo, com a companhia de vento ou simples aragem que tão bem íamos suportando entre calor sufocante e alguns arrepios provocados pelas alterações bruscas... A verdade é que a voz sumiu-se, sem qualquer aviso, sem dores de garganta, sem febre. Simplesmente, foi-se.
Ao segundo dia de silêncio forçado, cansada de chás e rebuçados anti - inflamatórios, sem açúcar,
( que diabetes a isso obrigam), optei por visitar o médico. Exames invasivos  às cordas vocais foram imediatamente recusadas  por mim. Não faço. Se houver repetição da crise, lá vai ter de ser, mas para já, antibiótico de 12 em 12 horas  e inalações diárias com um produto  qualquer de que não me lembro o nome e descansar a voz, como se não estivesse descansada há dois dias , e resguardar - me do vento e das mudanças de temperatura.... será que S. Pedro ouviu? Não parece, pois a instabilidade ora sol ora vento ora nuvens continua por cá...
Enfim, mais uns dias e a voz está recomeçando a soltar-se. A experiência do silêncio forçado não deixou de ser interessante. Alinguagem gestual tem sido fantástica, ignorava mesmo a minha aptidão para a expressão gestual... Todo o mundo, com quem me cruzo, inclusive as crianças falam comigo em voz baixa, quase sussurrando, o que torna todo o ambiente bem calmo e suave. Sem ruídos, sem vozes estridentes chamando por mim. É verdade que tem implicado mais deslocações pois , falar em voz alta, está fora de questão, não posso, não sou capaz... e lá tenho de ir entre a sala e a cozinha e o escritório uma e outra vez, se preciso comunicar com quem está comigo.
Este silêncio , contudo, é mesmo relaxante...Não posso comunicar tudo? Pouco importa. Reduzo as palavras ao mínimo indispensável... economia de energias... Fico irritada? Faço uma careta, um gesto com a mão de quem não quer saber disso e vou para outro lado... as palavras azedas ficaram quedas, nem sequer foram pronunciadas ... economia de sentimentos...
Quase posso concluir, depois de reflectir , que está maleita , inesperada revelou-me algumas das vantagens do silêncio, que quase já havia esquecido.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Gosto do mar, das serras, das florestas

Gosto do mar, das pedras, das florestas... 
O mar, nunca igual , leva-me para a terra dos sonhos , para terras desconhecidas , imaginadas, para mundos de sentimentos fluidos, indescritíveis, sentidos. 
As rochas transportam-me para formas escultóricas que só a natureza faz e os homens tentam imitar. O granito leva- me à minha Beira Baixa, permite-me caminhar nas ruas da minha infância, em aldeias onde familiares trabalhavam e eu passava as longas férias escolares, sempre tão curtas para mim.
As florestas despertam os caminhos de aventuras sonhadas, lidas, por cumprir. Deixam - me caminhar por veredas que alguns deixaram por ali, deixam- me imaginar histórias de silêncios cortados pelo som de pássaros , muitas vezes escondidos nas folhagens verdes e castanhas, conforme a época do ano .
Estes três elementos da natureza preenchem a minha mente , enchendo-a de cores e formas, indefiníveis, por vezes, bem delimitadas outras, mas sempre companheiras da solidão que todos encerramos bem no fundo do nosso ser.
Todos somos donos e senhores de um mundo secreto, que jamais conseguiríamos expressar mesmo que o tentássemos. Um mundo misto de certezas e incertezas, de sentimentos complexos, invasivos do nosso ser e limitados pelas palavras de que dispomos. 
Todos somos prisioneiros dos vocábulos que ouvimos , que lemos, que usámos e escutámos ao longo da vida e guardámos em nós. 
O mar leva-me no movimento constante das suas águas, voando num mundo de imagens, indefinido, calmo ou agressivo sem necessidade de palavras...
A serra aprisiona-me , parece que cai inteira nos meus ombros, coarctando -me movimentos, limitando os meus espaços, numa sensação paradoxal de atração e rejeição, confortável em alguns momentos, extremamente desconfortável noutros, mas necessária porque me traz de volta ao mundo real, às palavras, ao concreto da vida.
A floresta deixa-me caminhar em aventuras, imaginar caminhos e metas e encontros com seres reais e irreais, conhecidos e desconhecidos. Deixa-me usar e inventar palavras, deixa- me descobrir fadas e monstros, com sensações de prazer e medo, sempre recordadas com uma nostalgia amiga, porque o medo ficou lá, junto das árvores apinhadas, retorcidas, direitas, coloridas, secas, vivas...
Junto do mar, a liberdade e o futuro habitam. 
Junto das serras e rochas, moram a realidade e o presente.
 Na floresta, moram a imaginação e a incerteza. 
São três mundos distintos, atractivos, completos. São três mundos complementares. São três mundos que vivem em mim, que fazem parte de mim, da complexidade de gostos e sentimentos que me ocupam e que dificilmente sou capaz de exprimir em palavras. 

As palavras que conheço, que amo e que, afinal, são aquilo que sou.

Norte de Portugal                                                                                               S.Pedro de Moel




 Pinhal do Rei


sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O choque da manhã 

A partida de alguém deixa sempre um aperto no peito. É uma realidade que todos conhecemos e inconternável. Todos partimos. Contudo, associamos sempre a partida a uma idade maior e , nesses momentos, invariavelmente  comentamos que " é a vida". Mas, quando a partida é de um homem jovem, que conhecemos quando criança, que vimos crescer junto de uma família  amiga, que acompanhámos na escola, durante alguns anos, o choque toma conta de nós. Como pode ser? Não conheço as circunstâncias em que está partida ocorreu, mas recordo bem a criança malandreca, amável, simpática e sempre risonha que diariamente entrava pela sala de aulas... 

Rever a fotografia é rever a face do pai e da mãe, de quem sempre fui amiga . Compartilhámos muitas lutas, vivenciámos muitos momentos das nossas vidas, os nossos filhos sempre foram uma prioridade nossa. Hoje, soube da partida deste jovem. E voltei ao passado vivido, com coisas boas e menos boas. E ihoje, fiquei sem palavras . Não consigo imaginar a dor sentida naquela família. Nem expressar, em palavras , o que senti ao perceber , nas entrelinhas das frases usadas , o triste acontecimento. 

Que descanse em paz e que a família continue tão forte como os conheci , há muitos anos, e  sejam capazes de superar a dor. 

A partida de quem conhecemos e com quem convivemos , ao longo da vida, também é um pouco da nossa vida que se perde !

Todos seguiremos essa estrada. Todos voaremos com os sonhos que sonhámos! 

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

E Portugal ardeu de novo...

E de novo, as chamas acordaram e encheram o Algarve Serrano com uma onde de destruição. Casas, animais, árvores centenárias, pomares  tudo foi devorado pelas labaredas vermelhas que o vento e o calor ajudavam a alastrar. Não morreram pessoas, felizmente, apesar da teimosia de alguns que se recusavam a sair da sua casa. Os bombeiros desdobraram-se até à exaustão. A GNR percorreu as serras procurando salvar pessoas. Parece que nem sempre de modo muito afável, mas quem pode acusar homens e mulheres , extenuados por quilómetros percorridos,por assistir a uma destruição  inenarrável , por casas visitadas , habitadas por renitentes à saída e sua protecção, de um pouco menos de afabilidade naquelas circunstâncias?
 Quem nunca errou, que atire a primeira pedra...
As críticas sucederam-se , como de costume, num país cheio de gente sempre pronto a culpar os outros por atitudes e comportamentos que eles próprios não têm nem procuram ter. 
Estes acontecimentos tristes são comentados  até à exaustão, como se de jogos de futebol se tratassem. Abundam especialistas e comentadores . Repetem-se  uns aos outros. Os argumentos utilizados só variam, de acordo com a opção partidária de cada um, simulando todos uma objectividade inexistente , enquanto vão alimentando o voyeurismo de muitos e as queixas dos habitantes sofredores, incapazes de analisar a situação com racionalidade.
Vi homens e mulheres cansados , procurando acorrer a todas as emergências, dando prioridade absoluta  ao salvamento de pessoas. O facto de o maior número de feridos pertencer ao corpo dos Bombeiros e Protecção Civil é elucidativo desse esforço. Mas  há sempre quem goste de denegrir o trabalho que não é seu. Foi deprimente assistir ao modo como o Presidente da Associação de Bombeiros Profissionais se referiu à estratégia adoptada pelos responsáveis da operação em curso.As palavras proferidas assumiam um tom de arrogância e de desrespeito pelo trabalho dos colegas que  francamente , me enojou. Não sei como dizer isto de modo elegante!
Finalmente, os Fogos foram extintos. Ventos e temperaturas altas hão de voltar. A serra algarvia já ardeu, como em 2003. A reconstrução vai começar. Muitas lágrimas ainda vão cair dos olhos de quem tudo perdeu ou viu destruídas as suas coisas. Muitos serão ainda os comentários na televisão proferidos por quem nunca enfrentou tal situação mas não se coibirá de dizer o que devia ser feito. Acredito que nenhum daqueles combatentes dos fogos  não tenha feito tudo, mas tudo o que estava ao seu alcance para impedir que as chamas se propagassem. São dignos do  nossso respeito. Problemas? Claro que houve e haverá sempre que uma catástrofe surge e as decisões tiverem de ser tomadas no momento. Mas decidir estratégias num gabinete ou num estúdio de televisão, depois de a catástrofe ter acontecido, de surpresa,  não é o mesmo que planificar estratégias no meio de terras incendiadas, com ventos que só a Natureza comanda, com pessoas, muitas já idosas, sofrendo a dor da perda , com um aumento de temperatura rápido .Haverám  sempre um homem louco que gosta de ver o fogo, haverá sempre ventos que sopram em contraciclo.Que os homens possam vencer estas adversidades e que lições sejam tiradas de erros cometidos por quem lutou os fogos , em clima de serenidade , no recato das instituições responsáveis. 
Pela minha parte, confio nos Bombeiros  e seguramente que serão eles os principais interessados em que os fogos durem o menos possível.