quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Tempo

 O tempo vai, vem, não fica. Ora o sol desponta por entre nuvens acinzentadas, de formas apelativas à imaginação de cada um, ora as nuvens tapam o sol, tornando-se mais claras , quase brancas como o algodão, mantendo as formas estranhas, curiosas, tais pinturas de criança ou de pintor muito célebre que críticos se empenham em compreender e explicar.
São nuvens num tempo que vai chegando e num tempo que vai partindo.
É o mesmo tempo que passa por mim agora , no preciso momento que já passou... como se o tempo só fosse passado. O tempo presente é o instante que já foi quando acabo de o viver ou de o descrever.
Afinal a nossa vida é passado. Passado de minutos, de horas, de dias, de anos mas sempre momentos que já foram e que deixaram marcas em nós, mais ou menos profundas, mais ou menos conscientes mas marcas..marcas indeléveis em espaços  recônditos do nosso ser, tão recônditos que , muitas vezes, nem os reconhecemos, apesar de estarem lá, bem arrumadinhos , prontos a despertar quando menos esperamos ou desejamos. 
Não escolhem hora, nem dia, nem lugar para acordarem e nos avisarem que estão lá, vivos.
E é assim o Tempo da nossa caminhada pelo mundo. 
Como ondas do mar que nunca são iguais entre si, sempre em movimento , ora cavalgando umas sobre as outras enfurecidas, oravacariciando- se suavemente ou simplesmente deixando que o vento e a natureza as conduza com leveza até à costa onde vão deixando areia, conchas, pedras e pedregulhos ou lixo, muito lixo que o homem foi lançando para as suas profundezas em momentos que já são passado.
Aqui, olhando o mar invadindo a areia por onde caminho no verão, com toda a  energia branca da espuma , são muitos os momentos passados de tempos diferentes que me assaltam em flashes. Tão rapidamente que se torna impossível descrevê-los.
As memórias que ficaram dos momentos de há anos, quando criança,por aqui passava férias com a família;, de há menos anos , quando jovem aqui estudava para os exames da Faculdade; de há menos anos ainda, quando aqui vinha com os filhotes, crianças então , visitar os avós ou mesmo de há poucos anos quando trazia os meus netos para um lugar que era passado - presente na família.
 E também memórias de momentos passados há uma semana na praia Velha, que se foi transformando ao longo do tempo mas não deixou de ser o lugar presente- passado e também futuro , já que lá irei muitas vezes e de cada momento que lá viva será passado logo em seguida.
E o tempo vai , e o tempo vem, e o tempo nunca fica..
 O tempo vai, vem, fica. Ora o sol desponta por entre nuvens acinzentadas, de formas apelarias à imaginação de cada um, ora as nuvens tapam o sol, ficando mais claras , algumas quase brancas como algodão, mantendo as formas estranhas, curiosas, como pinturas de criança ou de pintor muito célebre que críticos se empenham em compreender e explicar.
São nuvens. É tempo que vai chegando e tempo que vai partindo.
É o mesmo tempo que passa por mim agora no preciso momento que já passou... como se o tempo só fosse passado. O tempo presente é o instante que já foi quando acabo de o viver ou de o descrever.
Afinal a nossa vida é passado. Passado de minutos, de horas, de dias, de anos mas sempre momentos que já foram e que deixaram marcas em nós, mais ou menos profundas, mais ou menos conscientes mas marcas..marcas indeléveis nos espaços mais recônditos do nosso ser, tão recônditos que , muitas vezes, nem os reconhecemos, apesar de estarem lá, bem arrumadinho, prontos a despertar quando menos esperamos ou desejamos. Não escolhem hora, nem dia, nem lugar para acordarem e nos avisarem que estão lá, vivos.
E é assim o Tempo da nossa caminhada pelo mundo. Como ondas do mar que nunca são iguais entre si, sempre em movimento , cavalgando umas sobre as outras enfurecidas, ou acariciando- se suavemente ou simplesmente deixando que o vento e a natureza as conduza com leveza até à costa onde vão deixando areia, conchas, pedras e pedregulhos ou lixo, muito lixo que o homem foi lançando para as suas profundezas em momentos que já são passado.
Aqui, olhando o mar invadindo a areia por onde caminho no verão, com energia branca da espuma , são muitos os momentos passados de tempos diferentes que me assaltam em flashes tão rapidamente que se torna impossível descrevê-los.
As memórias que ficaram dos momentos de há anos, quando criança,por aqui passava férias com a família, de há menos anos , quando jovem aqui estudava para os exames da Faculdade, de há menos anos ainda, quando aqui vinha com os filhotes, crianças ainda, visitar os avós ou mesmo de há poucos anos quando trazia os meus netos para um lugar que era passado - presente na família. E também memórias de momentos passados há uma semana na praia Velha, que se foi transformando ao longo do tempo mas não deixou de ser o lugar presente- passado e também futuro , já que lá irei muitas vezes e de cada momento que lá viva será passado logo em seguida.
E o tempo vai , e o tempo vem, e o tempo nunca fica...

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

As viagens que não fiz...

Manhã cedo, uma cãibra dolorosa obrigou - me a sair da cama, ainda sonolenta . Começava a amanhecer e o sol parecia despontar. Na varanda, olhei o céu. Um sol ainda tímido, o rasto de um avião  e uma gaivota cruzavam o ar.
Tudo se combinava como se tal beleza fosse um convite para uma viagem... Cruzar os céus , observando as nuvens com formas estranhas, brancas, parecendo manchas de algodão. A gaivota que voava sabe-se lá para onde mas em liberdade.
E eu, ali, contemplando o céu, manhã cedo, imaginando- me num avião, como aquele rastro tão geométrico, cujo destino desconhecia.
E se eu ali viajasse, para onde iria? Sei lá, são tantas as viagens que ainda não fiz e ainda mais as que gostava de repetir.






domingo, 28 de outubro de 2018

Como viver a Reforma? Uma reflexão encomendada

Uma amiga perguntou-me que serviços gostaria de usufruir quando me reformasse. Pergunta curiosa, tanto mais que , raramente adultos jovens se preocupam com o bem estar dos seniores que deles cuidaram , desde que nasceram até conseguirem seguir a sua vida , sem o apoio material dos pais.

Mas esta questão ficará para outra reflexão.

Já estou reformada há uns anos e devo confessar que sei bem avaliar estes anos,vividos fora da profissão que me preenchia todos os minutos da vida, mesmo quando procurava deixar a escola fora desse mundo.

Até em férias, havia sempre alguma coisa que me levava a imaginar novas estratégias de motivação e aprendizagem, geralmente, pensando naqueles alunos menos interessados em aprender o que quer que fosse.

 Nunca fui uma dona de casa exemplar. Ficar em casa, como boa esposa e boa mãe, fosse lá isso o que fosse, com lidas domésticas sempre iguais e repetitivas, deixou- me sempre demasiado perturbada. Sempre gostei do ar livre e do convívio social e de observar a vida e de observar o mundo e de reflectir, tendo sempre em mente o que eu poderia fazer ...

 Nunca imaginei como seriam os meus tempos de reforma, a não ser a certeza de que queria viajar muito, escrever quando e como me apetecesse, fotografar o mundo e as pessoas , ignorando paulatinamente as tarefas diárias com que devia ter de contar.

Por tudo isto, foi um desafio para mim, reflectir sobre que serviços , que tipo de ajudas seriam necessários para esses anos que todos temos de enfrentar , já que cada dia da nossa vida, desde o momento em que nascemos, estamos caminhando dia a dia, mês a mês, ano a ano para a velhice e para a morte, única certeza da humanidade.

Na realidade, ,considero que cada pessoa imagina os últimos anos de vida à sua maneira, com mais ou menos facilidades mas ,sobretudo , de acordo com a sua vivência ,com as suas disponibilidades materiais e , acima de tudo, com as relações familiares e sociais.

 Alguém que saiba não poder contar com a família directa terá necessariamente de encontrar apoios de outra ordem, nomeadamente, alguém a quem possa recorrer a qualquer momento do dia ou da noite, desde uma pequena gripe até à vontade de conversar ou de companhia para um café , uma visita ao museu ou uma ajuda para ir às compras...

 Não me importaria nada de ter quem fizesse todo o trabalho de casa, desde que não me privasse da liberdade de estar só, quando me apetecesse.

 Falar de solidão é falar de quem não tem ninguém com quem conversar, é falar de quem não sabe estar só consigo mesmo e parece vivenciar cada dia como um tormento.

Viver só não significa solidão. Significa, apenas, que precisa de alguém que a ajude (ou faça) as tarefas domésticas, nas idas ao médico ou farmácia, nos cuidados de alimentação e respectiva confecção, conforme as incapacidades ou vontade de cada um.

 Saber que algures há alguém capaz de prestar essa ajuda é importante mas não pode ser um serviço impessoal... toda e qualquer tipo de ajuda implica factores emocionais, afectivos, não resolúveis com qualquer tipo de tecnologia. Esta pode ajudar se uma relação presencial tiver sido previamente estabelecida.

 E passear? Demasiado importante para ser esquecido, quer se trate de uma pequena volta no jardim, nas ruas da cidade, no centro comercial ou de uma viagem mais ou menos longa, mais ou menos cara mas que,muitas vezes, não se faz " por não se gostar de ir sozinha ".

Tantas as mulheres e homens que partem , sem que o sonho de uma viagem, às vezes bem simples, se tenha concretizado.! E muitas vezes nem sequer o sabemos, porque nunca o disseram , outras vezes porque ajudaram quem hoje os ignora , outras porque... porque... As causas são inúmeras e variadas...

Uma certeza tenho, no entanto... " ninguém sente falta do que não conhece". O que implica que haja sempre quem dê a conhecer novas coisas, a incitar a novas experiências, a promover novas relações quer a nível social , quer mesmo a nível de aprendizagem.

Até partirmos, estamos sempre aprendendo e , até, só na hora de partir aprendemos o que é a partir para sempre.

Estabelecer relações de confiança é fundamental em qualquer tipo de ajuda que queiramos dar ou receber. " Se não for com a cara dele ou dela" , não há serviço para ninguém, quase me atrevia a afirmar, que valha a pena...

Uma ideia interessante seria uma plataforma, tipo "Über" com capacidade de ofertas de serviços ocasionais, mais concretamente de entrega de produtos em casa, sejam de supermercado ou de farmácias e eventualmente apoio complementar noutro tipo de ajudas específicas.

Outra coisa que pessoalmente me agradaria seria a existência de um espaço, preferencialmente num enquadramento paisagístico agradável, ( junto de água, mar ou rio seria o ideal), onde pudesse usufruir de companhia, quando desejasse, e onde poderia passar muito do meu tempo entregue às minhas actividades preferidas, com pequena oferta de refeições leves.

Tal como um espaço que despertasse nos mais renitentes à vontade de sair do casulo, em que transformam as suas casas, para a vida que vive lá fora...

Este espaço seria uma espécie de Clube, onde o bem estar habitaria. Claro que tal espaço implica profissionais com conhecimentos no domínio das Ciências Sociais e Humanas, muito semelhantes às exigíveis aos Docentes, em que as técnicas , por muito perfeitas que sejam e se dominem, só obtêm sucesso se envolvidas na afectividade.

 

 

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Os brasileiros devem estar loucos...

Gosto do Brasil e tenho amigos brasileiros há muitos anos. Talvez , por isso, não  consigo entender, por mais que tente, a vantagem dada a um candidato de extrema-direita, que só de ouvir, causa asco. Uma criatura que defende o racismo, a xenofobia e fala da mulher como se , de gado, se tratasse, para além da homenagem feita  a um coronel torturador de brasileiros durante a ditadura militar, não pode ser considerado humano. É uma besta... 

Podem os  Brasileiros estar desiludidos com o PT, é possível , mas agora trata-se de escolher entre a democracia e a ditatura " consentida" , tal como os Alemães elegeram Hitler e os Americanos deram o seu voto a Trump, um incendiário que não descansará, enquanto não puser o mundo a ferro e fogo.

Tudo indica que as religiões evangélicas, muitas delas enriquecidas à custa do Povo, apoiam este energúmeno!  Pobres crentes que não optam com base na análise do que é melhor para o País, mas sim nas palavras de quem , apenas , está interessado no enriquecimento de alguns...

E vai ser o Povo Brasileiro a sofrer , na pele, o autoritarismo e a força de quem não olha a meios para atingir os fins. Só me resta pensar que devem estar loucos! Ou que não sabem interpretar a História! 

Como diria qualquer cristão lúcido e coerente com a doutrina  , "que a Santa os ilumine, já que o Pai deve ter ido de férias"... e para bem longe, tão longe que retirou o raciocínio a tanta gente que tem sofrido muito ao longo dos anos...









quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Ficar afónica..? Experimentei...

A vida reserva-nos muitas surpresas, mesmo com alguns acontecimentos habituais no dia a dia...
Sempre soube o que é ficar rouca, mais ou menos, mas nada que uns rebuçados Santo Onofre e um chá de gengibre com mel não resolvessem. Desta vez, depois de um almoço bem disposto com uns bons amigos, decidi descansar um pouco, já que , mais tarde, novo lanche ajantarado em casa de outros amigos, ferrenhos do Benfica, o Glorioso, nos aguardava para vermos , na TV, o Derby, na Luz.
Tudo calmo, bem combinado, uma temperatura agradável, embora acompanhados por um vento levezinho, que não deixava de ser  bem acolhido.
Descanso completado, mais algumas páginas de um livro de Osho lidas, horas de tomar um café. Levanto- me e surpresa ... não conseguia falar. Completamente afónica... Causas?
Ignoro, mas são muitas as possibilidades, passando pelo verão e outono alternando-se no mesmo período de tempo, com a companhia de vento ou simples aragem que tão bem íamos suportando entre calor sufocante e alguns arrepios provocados pelas alterações bruscas... A verdade é que a voz sumiu-se, sem qualquer aviso, sem dores de garganta, sem febre. Simplesmente, foi-se.
Ao segundo dia de silêncio forçado, cansada de chás e rebuçados anti - inflamatórios, sem açúcar,
( que diabetes a isso obrigam), optei por visitar o médico. Exames invasivos  às cordas vocais foram imediatamente recusadas  por mim. Não faço. Se houver repetição da crise, lá vai ter de ser, mas para já, antibiótico de 12 em 12 horas  e inalações diárias com um produto  qualquer de que não me lembro o nome e descansar a voz, como se não estivesse descansada há dois dias , e resguardar - me do vento e das mudanças de temperatura.... será que S. Pedro ouviu? Não parece, pois a instabilidade ora sol ora vento ora nuvens continua por cá...
Enfim, mais uns dias e a voz está recomeçando a soltar-se. A experiência do silêncio forçado não deixou de ser interessante. Alinguagem gestual tem sido fantástica, ignorava mesmo a minha aptidão para a expressão gestual... Todo o mundo, com quem me cruzo, inclusive as crianças falam comigo em voz baixa, quase sussurrando, o que torna todo o ambiente bem calmo e suave. Sem ruídos, sem vozes estridentes chamando por mim. É verdade que tem implicado mais deslocações pois , falar em voz alta, está fora de questão, não posso, não sou capaz... e lá tenho de ir entre a sala e a cozinha e o escritório uma e outra vez, se preciso comunicar com quem está comigo.
Este silêncio , contudo, é mesmo relaxante...Não posso comunicar tudo? Pouco importa. Reduzo as palavras ao mínimo indispensável... economia de energias... Fico irritada? Faço uma careta, um gesto com a mão de quem não quer saber disso e vou para outro lado... as palavras azedas ficaram quedas, nem sequer foram pronunciadas ... economia de sentimentos...
Quase posso concluir, depois de reflectir , que está maleita , inesperada revelou-me algumas das vantagens do silêncio, que quase já havia esquecido.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Gosto do mar, das serras, das florestas

Gosto do mar, das pedras, das florestas... 
O mar, nunca igual , leva-me para a terra dos sonhos , para terras desconhecidas , imaginadas, para mundos de sentimentos fluidos, indescritíveis, sentidos. 
As rochas transportam-me para formas escultóricas que só a natureza faz e os homens tentam imitar. O granito leva- me à minha Beira Baixa, permite-me caminhar nas ruas da minha infância, em aldeias onde familiares trabalhavam e eu passava as longas férias escolares, sempre tão curtas para mim.
As florestas despertam os caminhos de aventuras sonhadas, lidas, por cumprir. Deixam - me caminhar por veredas que alguns deixaram por ali, deixam- me imaginar histórias de silêncios cortados pelo som de pássaros , muitas vezes escondidos nas folhagens verdes e castanhas, conforme a época do ano .
Estes três elementos da natureza preenchem a minha mente , enchendo-a de cores e formas, indefiníveis, por vezes, bem delimitadas outras, mas sempre companheiras da solidão que todos encerramos bem no fundo do nosso ser.
Todos somos donos e senhores de um mundo secreto, que jamais conseguiríamos expressar mesmo que o tentássemos. Um mundo misto de certezas e incertezas, de sentimentos complexos, invasivos do nosso ser e limitados pelas palavras de que dispomos. 
Todos somos prisioneiros dos vocábulos que ouvimos , que lemos, que usámos e escutámos ao longo da vida e guardámos em nós. 
O mar leva-me no movimento constante das suas águas, voando num mundo de imagens, indefinido, calmo ou agressivo sem necessidade de palavras...
A serra aprisiona-me , parece que cai inteira nos meus ombros, coarctando -me movimentos, limitando os meus espaços, numa sensação paradoxal de atração e rejeição, confortável em alguns momentos, extremamente desconfortável noutros, mas necessária porque me traz de volta ao mundo real, às palavras, ao concreto da vida.
A floresta deixa-me caminhar em aventuras, imaginar caminhos e metas e encontros com seres reais e irreais, conhecidos e desconhecidos. Deixa-me usar e inventar palavras, deixa- me descobrir fadas e monstros, com sensações de prazer e medo, sempre recordadas com uma nostalgia amiga, porque o medo ficou lá, junto das árvores apinhadas, retorcidas, direitas, coloridas, secas, vivas...
Junto do mar, a liberdade e o futuro habitam. 
Junto das serras e rochas, moram a realidade e o presente.
 Na floresta, moram a imaginação e a incerteza. 
São três mundos distintos, atractivos, completos. São três mundos complementares. São três mundos que vivem em mim, que fazem parte de mim, da complexidade de gostos e sentimentos que me ocupam e que dificilmente sou capaz de exprimir em palavras. 

As palavras que conheço, que amo e que, afinal, são aquilo que sou.

Norte de Portugal                                                                                               S.Pedro de Moel




 Pinhal do Rei


sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O choque da manhã 

A partida de alguém deixa sempre um aperto no peito. É uma realidade que todos conhecemos e inconternável. Todos partimos. Contudo, associamos sempre a partida a uma idade maior e , nesses momentos, invariavelmente  comentamos que " é a vida". Mas, quando a partida é de um homem jovem, que conhecemos quando criança, que vimos crescer junto de uma família  amiga, que acompanhámos na escola, durante alguns anos, o choque toma conta de nós. Como pode ser? Não conheço as circunstâncias em que está partida ocorreu, mas recordo bem a criança malandreca, amável, simpática e sempre risonha que diariamente entrava pela sala de aulas... 

Rever a fotografia é rever a face do pai e da mãe, de quem sempre fui amiga . Compartilhámos muitas lutas, vivenciámos muitos momentos das nossas vidas, os nossos filhos sempre foram uma prioridade nossa. Hoje, soube da partida deste jovem. E voltei ao passado vivido, com coisas boas e menos boas. E ihoje, fiquei sem palavras . Não consigo imaginar a dor sentida naquela família. Nem expressar, em palavras , o que senti ao perceber , nas entrelinhas das frases usadas , o triste acontecimento. 

Que descanse em paz e que a família continue tão forte como os conheci , há muitos anos, e  sejam capazes de superar a dor. 

A partida de quem conhecemos e com quem convivemos , ao longo da vida, também é um pouco da nossa vida que se perde !

Todos seguiremos essa estrada. Todos voaremos com os sonhos que sonhámos! 

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

E Portugal ardeu de novo...

E de novo, as chamas acordaram e encheram o Algarve Serrano com uma onde de destruição. Casas, animais, árvores centenárias, pomares  tudo foi devorado pelas labaredas vermelhas que o vento e o calor ajudavam a alastrar. Não morreram pessoas, felizmente, apesar da teimosia de alguns que se recusavam a sair da sua casa. Os bombeiros desdobraram-se até à exaustão. A GNR percorreu as serras procurando salvar pessoas. Parece que nem sempre de modo muito afável, mas quem pode acusar homens e mulheres , extenuados por quilómetros percorridos,por assistir a uma destruição  inenarrável , por casas visitadas , habitadas por renitentes à saída e sua protecção, de um pouco menos de afabilidade naquelas circunstâncias?
 Quem nunca errou, que atire a primeira pedra...
As críticas sucederam-se , como de costume, num país cheio de gente sempre pronto a culpar os outros por atitudes e comportamentos que eles próprios não têm nem procuram ter. 
Estes acontecimentos tristes são comentados  até à exaustão, como se de jogos de futebol se tratassem. Abundam especialistas e comentadores . Repetem-se  uns aos outros. Os argumentos utilizados só variam, de acordo com a opção partidária de cada um, simulando todos uma objectividade inexistente , enquanto vão alimentando o voyeurismo de muitos e as queixas dos habitantes sofredores, incapazes de analisar a situação com racionalidade.
Vi homens e mulheres cansados , procurando acorrer a todas as emergências, dando prioridade absoluta  ao salvamento de pessoas. O facto de o maior número de feridos pertencer ao corpo dos Bombeiros e Protecção Civil é elucidativo desse esforço. Mas  há sempre quem goste de denegrir o trabalho que não é seu. Foi deprimente assistir ao modo como o Presidente da Associação de Bombeiros Profissionais se referiu à estratégia adoptada pelos responsáveis da operação em curso.As palavras proferidas assumiam um tom de arrogância e de desrespeito pelo trabalho dos colegas que  francamente , me enojou. Não sei como dizer isto de modo elegante!
Finalmente, os Fogos foram extintos. Ventos e temperaturas altas hão de voltar. A serra algarvia já ardeu, como em 2003. A reconstrução vai começar. Muitas lágrimas ainda vão cair dos olhos de quem tudo perdeu ou viu destruídas as suas coisas. Muitos serão ainda os comentários na televisão proferidos por quem nunca enfrentou tal situação mas não se coibirá de dizer o que devia ser feito. Acredito que nenhum daqueles combatentes dos fogos  não tenha feito tudo, mas tudo o que estava ao seu alcance para impedir que as chamas se propagassem. São dignos do  nossso respeito. Problemas? Claro que houve e haverá sempre que uma catástrofe surge e as decisões tiverem de ser tomadas no momento. Mas decidir estratégias num gabinete ou num estúdio de televisão, depois de a catástrofe ter acontecido, de surpresa,  não é o mesmo que planificar estratégias no meio de terras incendiadas, com ventos que só a Natureza comanda, com pessoas, muitas já idosas, sofrendo a dor da perda , com um aumento de temperatura rápido .Haverám  sempre um homem louco que gosta de ver o fogo, haverá sempre ventos que sopram em contraciclo.Que os homens possam vencer estas adversidades e que lições sejam tiradas de erros cometidos por quem lutou os fogos , em clima de serenidade , no recato das instituições responsáveis. 
Pela minha parte, confio nos Bombeiros  e seguramente que serão eles os principais interessados em que os fogos durem o menos possível.


terça-feira, 10 de julho de 2018

Resgate...

E as crianças foram resgatadas ! Milagre? Não. Vontade férrea de homens e mulheres que se empenharam aliadas à competência e ciência, potencializados pelo poder de uma governação em exercício. Quanto terá custado tal operação? Não sei nem estou muito interessada em averiguar ... as crianças e o seu treinador, jovem também, foram salvos . 

E a alegria soprou por esse mundo fora que se cala , acabando por consentir ,que outras crianças , sem pais, sejam abandonadas devido às guerras que outros poderes alimentam e incentivam. Mas alguns desses mesmos poderes não hesitaram, certamente em apoiar com reforços o resgate destas crianças.

 O horror tem de ser mediatizado para que algo seja feito . 

Do que não restam dúvidas é que os mesmos poderes que tudo fizeram , felizmente, para resgatar crianças com família, ignoram os milhares de crianças , sem família e sem tecto , fugidas de guerras criadas em nome da “democracia “ do petróleo. 

Do que não restam dúvidas, é que o mundo poderia ser mais justo para todas as crianças se os homens detentores do poder “quisessem”... 


quarta-feira, 30 de maio de 2018

Maio cheio

Maio, cheio 
Cheio de Maio,
De sonhos cumpridos no sol da meia noite,
Saboreado na cor inebriante,
No vento indomável,
No frio cortante,
Na neve imaculada,
Nas renas passeando...

Maio cheio
Da dor da  Mãe que partiu,
Num dia de um maio passado,
Num dia de um sol  tão quente
Que me arrefeceu a alma
E alimentou as lágrimas 
Vivas, ainda.

Maio cheio
do sorriso da menina
Que mal pronuncia “vó”,
E  saboreou  as cerejas vermelhas
Com a boca pequenina,
Pela primeira vez.

Maio , cheio 
Das flores que despontam por aí,
Celebrando Vida,
Enquanto homens e mulheres,
Num salão requintado,
Por entre acusações e elogios,
discutem Morte.

Maio cheio,
Da alegria  muita, 
do reencontro com Lugares
que já foram presente,
Do reencontro com amigos 
que habitaram esses lugares.
 Todos  meninos ,
Com sonhos e certezas,
Alcançadas 
Ou talvez Não.

Maio, cheio
Cheio de sol e nuvens que o escondem
E o descobrem,
Cheio de calor e frio que persiste
Nesta primavera adiada,
Cheio de Alegria e Tristeza 
Que me habitam...

Maio cheio,
De Vida que vivi ,
De Morte que recordei,
De Sonho que cumpri,
De Amizades eternas.

Maio cheio, 
Cheio de Mim.




quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

reflectindo sobre 2017


Do ano prestes a acabar, devia ou melhor poderia fazer um balanço , mas não me apetece. 
Foi um ano igual a tantos outros, a nível pessoal. 
Com acontecimentos bons, outros nem tanto; afectos bem sucedidos, outros por resolver; viagens desejadas muito agradáveis, outras, muitas ,também desejadas mas por fazer e sem saber se serão ou não feitas , alguma vez. Sonhos cumpridos e muitos por cumprir. Encontros , desencontros e reencontros feitos, desejados, adiados, prometidos  na célebre frase “para o ano é que é..”. E o ano passou e não foi ainda. Talvez um dia, quem sabe...

A nivel geral, foi um ano turbulento , diria mesmo bipolar… a geringonça aguentou-se bem tal com o país , mas os fogos incendiaram o centro e os media  nunca mais pararam de abordar o tema, com um presidente omnipresente e um bocado confuso com as suas competências. Mais do que um presidente, parece um comentador permanente de uma estação televisiva.

A presença dele tornou-se fastidiosa, por demasiado interveniente em assuntos para os quais não tem competência. Demasiado populista, sempre com os media atrás e beijinhos e selfies e afectos mediáticos, preferencialmente com os “pobrezinhos, coitadinhos,"alvos de uma pretensa solidariedade que parece ter invadido este povo incapaz de lutar pelos seus direitos mas sempre pronto a pedinchar as benesses do estado, apesar de no dia a dia procurar o meio mais simples de fugir aos impostos.

A nível internacional a loucura está instalada. Dois loucos, presidentes dos E.U.A. e Rep. Da Coreia do Norte brincam nas redes sociais disputando quem tem a Bomba Nuclear maior e qual dos botões vermelhos é maior. Na casa de qualquer família medianamente sensata, há muito que os dois estariam castigados e, possivelmente, já teriam sido objecto de umas bofetadinhas bem dadas que teria acabado com a guerra de crianças . Mas o mundo comenta, apoia um dos lados, utilizando argumentos que podem ser , com toda a justiça , aplicados a qualquer dos lados. 
Dois loucos brincando com fogo só pode causar incêndio. E veremos , depois, que bombeiros vão surgir depois de danos colaterais , como lhes chamam, terem vitimado milhares de pessoas .

A Europa continua a sua luta , com palavras, pela Defesa dos Direitos Humanos dos Povos que são importantes estrategicamente para os seus Leaders. E aqui temos outra causa para todos os gostos , mobilizando palavras e palavras na defesa de Direitos que não são cumpridos no velho Continente. Talvez a velhice do Continente justifique esta atitude do "deixa-andar, logo se vê", tão querida a quem já pouco espera da vida.

E eu? 
Nada. Vou reflectindo e assistindo a este espectáculo de hipocrisia que alguns chamam de “real politics”... E vou escrevendo...e outros vão comentando ...







2017 a acabar...

E 2017 está a chegar ao fim. 
Dentro de algumas horas,  grande parte do mundo festejará com mais ou menos fogo de artifício e música , a entrada em 2018… Os votos de Boas Festas repetem-se todos os anos, com os mesmos votos, sinceros ou não, com as mesmas mensagens enviadas por telemóveis ou pelas redes sociais, poucas em papel e menos ainda por fala directa, a não ser o rotineiro" Bom Ano "que , nesta época se deseja do mesmo modo que se diz "Bom Dia "ou" Boa Tarde"

Em casa, no quarto, com varanda virada para a rua, sempre muito movimentada e hoje, tremendamente silenciosa, reflicto em frente ao notebook.
Não vai haver champanhe nem danças nem marisco nem leitão.Nem passas , que me esqueci de comprar.

Um jantar igual a tantos outros, batata doce assada no forno, antibióticos, pílulas para dores do corpo e para a tosse, chá de gengibre com mel e limão e , provavelmente algum programa televisivo já que a belíssima série que ia na 2 , acabou ontem mesmo.