O mar, nunca igual , leva-me para a terra dos sonhos , para terras desconhecidas , imaginadas, para mundos de sentimentos fluidos, indescritíveis, sentidos.
As rochas transportam-me para formas escultóricas que só a natureza faz e os homens tentam imitar. O granito leva- me à minha Beira Baixa, permite-me caminhar nas ruas da minha infância, em aldeias onde familiares trabalhavam e eu passava as longas férias escolares, sempre tão curtas para mim.
As florestas despertam os caminhos de aventuras sonhadas, lidas, por cumprir. Deixam - me caminhar por veredas que alguns deixaram por ali, deixam- me imaginar histórias de silêncios cortados pelo som de pássaros , muitas vezes escondidos nas folhagens verdes e castanhas, conforme a época do ano .
Estes três elementos da natureza preenchem a minha mente , enchendo-a de cores e formas, indefiníveis, por vezes, bem delimitadas outras, mas sempre companheiras da solidão que todos encerramos bem no fundo do nosso ser.
Todos somos donos e senhores de um mundo secreto, que jamais conseguiríamos expressar mesmo que o tentássemos. Um mundo misto de certezas e incertezas, de sentimentos complexos, invasivos do nosso ser e limitados pelas palavras de que dispomos.
Todos somos prisioneiros dos vocábulos que ouvimos , que lemos, que usámos e escutámos ao longo da vida e guardámos em nós.
O mar leva-me no movimento constante das suas águas, voando num mundo de imagens, indefinido, calmo ou agressivo sem necessidade de palavras...
A serra aprisiona-me , parece que cai inteira nos meus ombros, coarctando -me movimentos, limitando os meus espaços, numa sensação paradoxal de atração e rejeição, confortável em alguns momentos, extremamente desconfortável noutros, mas necessária porque me traz de volta ao mundo real, às palavras, ao concreto da vida.
A floresta deixa-me caminhar em aventuras, imaginar caminhos e metas e encontros com seres reais e irreais, conhecidos e desconhecidos. Deixa-me usar e inventar palavras, deixa- me descobrir fadas e monstros, com sensações de prazer e medo, sempre recordadas com uma nostalgia amiga, porque o medo ficou lá, junto das árvores apinhadas, retorcidas, direitas, coloridas, secas, vivas...
Junto do mar, a liberdade e o futuro habitam.
Junto das serras e rochas, moram a realidade e o presente.
Na floresta, moram a imaginação e a incerteza.
São três mundos distintos, atractivos, completos. São três mundos complementares. São três mundos que vivem em mim, que fazem parte de mim, da complexidade de gostos e sentimentos que me ocupam e que dificilmente sou capaz de exprimir em palavras.
As palavras que conheço, que amo e que, afinal, são aquilo que sou.
Norte de Portugal S.Pedro de Moel
Pinhal do Rei
Sem comentários:
Enviar um comentário
deixe a sua nota aqui...